:: O falso eu ::


“Os olhos do Senhor passeiam por toda a terra para se mostrar forte para com aqueles cujo coração é inteiramente seu.”
 (2 Crônicas 16.9)

Poucas pessoas te amam pelo que você realmente é. A maioria te ama pelo que acha que você é. Pelo que você representa. Pelo título que ostenta. Pela pessoa que aparenta e se mostra ser. Mas nenhum desses é você. Nenhum desses sou eu. O que na verdade somos o somos em nosso silêncio, quando ninguém mais está nos vendo - exceto Deus.

Grande parte das pessoas, se soubesse quem de fato somos e das fraquezas internas que somos incapazes de enfrentar, fatalmente nos odiaria. Mas para não correr o risco de sermos odiados, nos escondemos e nos encolhemos em algum lugar dentro de nós mesmos. Só mostramos o que nos convém mostrar. Uma maquiagem coletiva que assegura o meu e o seu ingresso de aceitação em lugares onde certamente não seríamos aceitos se não tratássemos de esconder muito bem nossas mazelas e imperfeições.

Desenvolvemos a arte de ser e de viver no coletivo a partir de um "eu" que não tem nada a ver comigo, de modo que ninguém veja o que de fato sou quando estou sozinho. Ninguém pode ver a minha solidão, minhas lágrimas, minhas decepções, minhas fraquezas. “Viver a partir do falso eu gera um desejo compulsivo de apresentar uma imagem perfeita para o público, de forma que todos nos admirem e ninguém nos conheça” (Brennan Manning – “O impostor que vive em mim”).

Ficamos preocupados com a nossa honra, com  o que vão pensar a nosso respeito. Nutrimos o medo de perder amigos, cargos, posições, relacionamentos... Perder tudo aquilo que conquistamos depois de tantos anos de suor e alguns quilos de maquiagem...e assim, inculcados pelo medo de perder, acabamos perdendo algo muito mais valioso que todo o resto: a beleza e a leveza de se viver uma vida em verdade.

E quem perde a virtude de viver uma vida em verdade já perdeu tudo. Pode se manter casado, mas já perdeu o elo que sustenta toda e qualquer aliança. Pode continuar religiosamente presente na igreja, mas já não sente mais o conforto de ter a presença de Deus diariamente em seu coração. Pode permanecer apascentando ovelhas em pastos verdejantes, mas já não tem mais as mãos limpas e fortes para manejar o cajado. Pode se autointitular cristão, mas já se esqueceu da essência do evangelho de Cristo.

Sutilmente, vamos nos acostumando a buscar a Deus na multidão, com nosso "eu" maquiado e nunca tratado. Porque não pode ser tratado o que não é confessado e compartilhado. Não há cura possível para feridas que não são expostas à brisa, ao ardor e ao calor de Deus. Não há cicatrização viável. Permanecem para sempre como feridas abertas encobertas por um velho e desgastado band-aid.  

Nossas fraquezas nos escandalizam, intimidam e silenciam. Mostram nossa real identidade. Mas quem tem problemas com a nossa própria natureza somos nós mesmos. Deus não. Deus nunca teve. O amor de Deus não é cego. Ele vê, sabe e conhece muito bem os filhos que somos e, mesmo assim, escolhe nos amar. Ele é uma das poucas pessoas – se não a única – que te ama do jeito que você é. Mesmo cheio de defeitos. E por te amar tanto, se nega a te deixar do jeito que está. Como disse Lutero, “o amor de Deus não se destina àquele que é digno de ser amado, mas, antes de tudo, cria aquele que vale a pena ser amado”.

Todo relacionamento de amor se torna mais forte quando as partes conhecem as fraquezas um do outro, respeitam-se, respeitam-nas e ajudam-se a vencê-las. 

Deus quer tratar as suas feridas. Jesus quer falar com você. E por querer se relacionar com o que você é – e não com o que você aparenta ser – Ele não aceita nada menos do que a sua individualidade. Entra no seu quarto, fecha a porta, em secreto. É na intimidade com Deus e no silêncio do quarto que despimos nossa alma perante Aquele que tudo vê. Quem busca e acha Deus somente nos ajuntamentos corre o sério risco de se acostumar a não buscá-lo e achá-lo na individualidade. Chega de buscar a Deus apenas na coletividade. Porque ali Deus continua sendo Deus, mas você não é inteiramente você.


Por Fernando Khoury
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