:: A beleza da dúvida ::

“E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de toda palavra que sai da boca do SENHOR viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos. Sabes, pois, no teu coração que, como um homem disciplina seu filho, assim te disciplina o SENHOR teu Deus”

(Deuteronômio 8: 2-10)

"Assim o Senhor deu aos israelitas toda a terra que tinha prometido sob juramento aos seus antepassados, e eles tomaram posse dela e se estabeleceram ali ... De todas as boas promessas do Senhor à nação de Israel, nenhuma delas falhou; todas se cumpriram".

(Josué 21:43)

"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos".

(Hebreus 11:1)


Existe uma beleza em não saber onde se vai chegar. Não saber ao certo o destino que se vai alcançar. Não ter a certeza do tempo certo em que nossos sonhos vão se realizar. Não conseguir antever, até mesmo, se um dia os planos que fizemos irão acontecer.

Sim, existe uma beleza na dúvida. Existe uma beleza na incerteza do futuro. Existe uma beleza em não saber exatamente o que está por vir. Pode até não parecer, mas é essa hesitação frente aos acontecimentos vindouros que transforma o preto e branco da existência no colorido da vida. É o presente da existência ornado com o perfume, o sabor e a cor do dom da vida.

Deus não se contentou apenas com nossa existência. Ele quis que nós não apenas existíssemos, mas vivêssemos. Por isso, Deus permitiu que existissem dúvidas e incertezas em nossa jornada...para que a vida pudesse ser verdadeiramente vivida. Do contrário, a vida não seria vivida, mas cumprida, pois seguiríamos um roteiro hermético e previsível, onde não haveria espaço para a surpresa. E onde não há surpresa, não há lugar para lágrimas e sorrisos; não há lugar para a dor e alegria. Onde não existe surpresa, não existe espaço para a verdadeira vida.

Imagine se Deus nos permitisse conhecer todos os passos que iríamos percorrer. Imagine se Ele nos concedesse saber, de antemão, tudo aquilo que nos sucederia. Se assim fosse, passaríamos pela vida sem ter vivido; teríamos apenas existido. Viver é experimentar, é vivenciar, é conhecer. Viver é sentir, é sofrer, é suportar. É rir e chorar. É errar e aprender; crescer e amadurecer. É descobrir os outros e descobrir-se. É surpreender o próximo e surpreender-se. Viver é saber que a qualquer momento tudo pode mudar, ou simplesmente tudo pode ficar como está. É lutar para que o pior possa melhorar. É conservar o melhor para que não venha a piorar. Viver é saber que existe sempre um elemento novo ainda desconhecido prestes a fazer nosso coração bater mais forte, seja de alegria, seja de tristeza. Viver é saber que o amor e a dor podem até passar, mas o coração continua. Viver é continuar seguindo em frente mesmo sem ter certeza de onde se vai chegar.

Contudo, para continuarmos seguindo em frente, precisamos de uma bússola que nos assegure de que estamos no caminho certo. Precisamos de algo que nos direcione, que nos norteie, que nos mostre a direção. Precisamos de segurança. Foi assim que aconteceu com o povo hebreu em sua jornada no deserto, quando foi liberto por Deus da escravidão no Egito.

Nessa época, todo o povo era cativo de Faraó. Tal opressão só terminou com o aparecimento de Moisés, que foi o homem levantado por Deus para libertar o povo e para conduzi-lo à terra prometida. Acontece que, entre a promessa e a realização da promessa, havia um hiato imenso: uma longa viagem de quarenta anos de peregrinação no deserto. A similaridade desse acontecimento com a nossa vida não é mera coincidência. De fato, entre a promessa e a realização da promessa, Deus sempre nos conduz por uma ponte de aprendizado. E o deserto é uma de suas pontes prediletas.

Deus é assim: antes de cumprir uma promessa, Ele geralmente nos coloca no deserto, porque é nas dificuldades do deserto que eu e você aprendemos a exercer a confiança genuína nEle. Algumas vezes, em nossa caminhada no deserto, Deus nos leva à mais alta das montanhas para que possamos ver como somos pequenos. Outras vezes, Deus nos leva ao mais profundo dos vales para que possamos enxergar como somos frágeis.

O deserto é a ponte que Deus mais gosta de usar para ensinar, provar e sondar o nosso coração, pois nós só conseguiremos crescer verdadeiramente se enfrentarmos nossos medos. É no calor do deserto que aprendemos a conviver com a dor. É na solidão do deserto que somos obrigados a renunciar aos nossos próprios interesses. É na insegurança do deserto que percebemos como somos fracos e vulneráveis. É no abandono do deserto que Deus nos revela seu amor e nos trata. É morrendo de fome no deserto que experimentamos que podemos viver não só de pão, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus. É através da sede que sentimos no deserto que compreendemos como é fácil se iludir com as miragens que nossos olhos juram ver. É na homogeneidade da paisagem do deserto que entendemos como somos propensos a nos perder quando não temos um ponto de referência.

Quando não se tem um ponto de referência, tanto faz virar à direita ou à esquerda. Tanto faz seguir em frente ou voltar atrás. Pois, sem um ponto de referência, tudo é igual; não existe direção: o caminho vira descaminho, e a verdade, mentira. Sem um guia, estamos perdidos; não chegamos a lugar algum.

É por isso que Deus não nos abandona no deserto: porque Ele sabe que, sem Ele, estamos perdidos. Se não fosse por Ele, jamais chegaríamos a ver a realização da promessa; caminharíamos eternamente em círculos. Tropeçaríamos em nossos próprios passos, sem nunca conseguir atravessar a ponte. Deus sabe que, sem Ele, nada somos. Deus sempre nos ajuda a atravessar a ponte do aprendizado providenciando um jeito único de nos guiar, porque Ele conhece a nossa fragilidade e a nossa incrível tendência em se perder.

Para o povo hebreu em sua jornada no deserto, Deus foi adiante deles numa coluna de nuvem para guiá-los durante o dia e, de noite, numa coluna de fogo para iluminá-los. O fogo iluminava a escuridão e mostrava o caminho a ser seguido durante a noite; a nuvem aliviava o causticante calor do sol durante o dia. E o interessante é que a Bíblia diz que Deus, durante a caminhada no deserto, nunca retirou de diante do povo a coluna de nuvem e a coluna de fogo; nunca deixou de guiá-lo e protegê-lo. E assim também é conosco.

Contudo, quando não vemos as coisas acontecendo no sentido daquilo que Deus nos prometeu, menosprezamos as colunas de nuvem e de fogo. Achamos que Ele nos abandonou e chegamos a duvidar até mesmo da promessa que um dia Ele nos fez. Quando as promessas de Deus parecem demorar demais, não conseguimos mais enxergar qualquer beleza na dúvida. Pelo contrário, transformamos sua beleza em ingratidão, em murmúrio, em falta de fé. Deixamos nos levar pelo que os nossos olhos estão vendo, e não pela promessa que ouvimos da boca de Deus. Enfim, deixamos que a beleza da dúvida chame mais atenção que a beleza e a certeza da fidelidade de Deus.

Se esse é o seu caso, se você está deixando que a beleza da dúvida te faça duvidar da certeza da fidelidade de Deus, lembre-se: Deus é livre e fiel. Ele não precisa de qualquer circunstância favorável para nos mostrar que está ao nosso lado, cuidando de nós. Para Deus, o empenho de sua palavra deve nos bastar. A promessa de Deus deve nos ser suficiente, pois Ele não é homem para mentir. O que Deus promete, Deus cumpre, ainda que as circunstâncias o acusem de omissão, de esquecimento e de abandono.

Por isso, se você está passando por um deserto, não desanime. Pois assim como Deus protegeu, acompanhou e dirigiu os israelitas em sua viagem à Terra Prometida, Deus há de proteger, acompanhar e dirigir você! Não estamos no deserto à toa. Foi Deus quem nos colocou lá, para que, antes de vermos a realização da promessa, possamos aprender a viver em sua dependência.

Quando não estiver conseguindo enxergar, olhe para a coluna de fogo iluminando o seu caminho. Quando estiver se sentindo perdido e sem direção, olhe para a coluna de nuvem a te guiar. Quando a noite estiver fria, deixe o calor de Deus te alentar. Quando estiver se sentindo sufocado em meio ao calor intenso do deserto, acalme-se e respire o ar puro de Deus. Quando estiver quase desistindo, lembre-se que Deus não desistiu de você. Traga à sua memória apenas aquilo que pode te trazer esperança. Agarre-se à promessa. Não deixe que os seus olhos e as circunstâncias à sua volta te façam desanimar de caminhar. Antes, permita que a fé em Deus e a esperança em sua promessa te façam avançar.

Só nesse momento entenderemos que não importa tanto saber para onde se vai, mas sim com quem se vai. Não importa saber onde está a terra prometida, mas quem a prometeu. Não importa saber o destino, mas sim quem está te dirigindo. Não importa aonde os seus passos vão te levar, mas sim se é Deus que está te levando. Em nossa jornada com Deus no deserto, é caminhando que se faz o caminho. Não existem mapas. A direção é diária. É um dia de cada vez. É uma noite de cada vez. Como disse C. S. Lewis, "pensava que seguíamos caminhos já feitos, mas não os há...o nosso ir faz o caminho". Portanto, olhe para a coluna de nuvem e de fogo que Deus tem colocado diariamente ao alcance da sua visão.

Deus quer que vejamos e vivamos a promessa, mas Ele também quer que atravessemos a ponte do aprendizado. Nunca se esqueça de que a beleza da dúvida está em aprender a confiar em Deus quando nossos olhos ainda não conseguem ver a realização do que Ele prometeu. A beleza da hesitação está em ter certeza da fidelidade de Deus quando tudo à nossa volta permanece incerto. A beleza de não saber onde se vai chegar é poder chegar a qualquer momento, quando menos se espera. Por isso, alegre-se: o deserto é a ponte que Deus usa para te levar ao que Ele prometeu. E você pode estar a apenas um passo de entrar na terra prometida. Não desista agora. Você pode estar mais perto do que imagina.

 
Por Fernando Khoury
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