:: Órfãos de Deus ::
Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. Pai, nós somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de benção para nossas vidas, para essa cidade. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele, contra nossas vidas. Precisamos dessa tua cobertura, dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, Senhor, armas para nos ajudar nessa guerra e, acima de tudo, todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, mas o Senhor nunca falha.


O que você achou dessa oração? À primeira vista, é uma oração muito bonita. Parece mostrar um coração sincero, humilde, confiante na vontade e na infalibilidade de Deus e disposto a lutar e a servir em sua obra aqui na Terra, não importa o que aconteça. A estrutura dessa oração lembra, até mesmo, alguns dos lindos Salmos que encontramos na Bíblia.

Mas as semelhanças param por aí. Quem fez essa bela oração não foi Davi, Salomão ou Asafe. Quem chamou Deus de Pai, dessa vez, não foi Jesus. E quem agradeceu pela benção concedida e pediu armas para combater um bom combate tampouco foi Paulo. Quem orou como o salmista, chamou a Deus de Pai como Jesus e buscou forças para combater um bom combate como Paulo foi o “nosso irmão em Cristo” Rubens César Brunelli, membro e deputado distrital do Partido Social Cristão.

Brunelli, como bom cristão que é, freqüentava assiduamente uma reunião para colocar em prática sua fé. Contudo, não se tratava de uma reunião qualquer. Segundo fortes indícios colhidos pela Polícia Federal, o principal objetivo do encontro não era buscar e cultuar a Deus, mas sim obter o pagamento de mensalão para a base aliada do governo do Distrito Federal, num esquema de caixa dois que teria sido montado pelo governador José Roberto Arruda (Partido Democratas) durante a campanha eleitoral de 2006.

O vídeo – gravado e espalhado em diversas páginas do Youtube – mostra que faziam parte dessa reunião outras duas pessoas: Leonardo (im)Prudente e Durval Barbosa. O primeiro é o atual presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal. O segundo é delegado aposentado da Polícia Civil e Secretário de Relações Internacionais do Governo do DF.

Ao fim do encontro, como não poderia deixar de ser, os deputados e o ex-secretário comemoram, batem palmas, se abraçam e, provavelmente se lembrando das palavras de Jesus no texto de Mateus 18.20 – “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” –, realizam uma longa oração, cheia de unção e poder do E$pírito $anto. A benção pela qual Brunelli agradece em sua comovente oração se refere aos R$ 30 mil que recebia mensalmente das mãos de Durval Barbosa desde 2002.

O que me consola é que, ao contrário do que pode parecer, os três calhordas não estavam ali “reunidos no nome de Jesus Cristo”. Logo, Jesus não estava no meio deles. Até mesmo porque Jesus não compactua com a depravação, a perversão e a corrupção do ser-humano. Quem compactua com esse tipo de postura não é o Cristo, mas o anticristo. Quem estava ali, no meio deles, é aquele que veio para roubar, matar e destruir, e não aquele que veio para restituir, vivificar e reconstruir.

Diante desse triste quadro, só consigo vislumbrar uma conclusão: Brunelli e os outros dois picaretas não oraram a Deus, mas sim ao diabo. Chamaram de pai e senhor não a Deus, mas ao Diabo. O pai da mentira, o senhor do engano, o pai da fraude, o senhor da depravação moral. Curiosamente ou não, a sigla do Partido Democratas é DEM. Isso te lembra alguma coisa?

Aos cristãos que ficam, um alerta: suas atitudes têm o poder de torná-lo órfão de Deus. Não porque Deus morreu, mas porque suas atitudes crucificam e matam Deus diariamente em sua vida. Não porque Jesus não ressuscitou, mas porque você ainda não ressuscitou juntamente com Cristo.

O filho rebelde que abandona a casa de seu pai e não o reconhece como tal é indigno de ser chamado de filho e, assim, se torna órfão de um pai ainda vivo. Da mesma forma, a orfandade de Deus não pressupõe que Deus esteja morto. Antes, pressupõe que o filho leve sua vida como se o pai – embora vivo – já estivesse morto. O que o pai pensa? Pouco importa. O que o pai quer? Pouco importa. Os que assim vivem são órfãos de um Deus-Pai eternamente vivo.

Não chame Deus de Pai se você não faz o que Ele ensina. Não chame Deus de Pai se você não se comporta como filho. Não chame Deus de Pai se você não considera seu semelhante um irmão. Se a sua vida é uma mentira, Deus não é seu Pai. O diabo é o pai da mentira, e ele está doido para adotar os órfãos de Deus.


Por Fernando Khoury

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Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” – Gálatas 4

E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe” – Marcos 3.33

:: Os cristãos, os seres-humanos e os cachorros ::

Quanto mais conheço os cristãos, mais eu gosto dos seres-humanos.
Quanto mais conheço os seres-humanos, mais eu gosto do meu cachorro.

Se você é um cachorro mutante que aprendeu a ler, você certamente adorou essa frase!

Se você é um desses seres-humanos que amam cachorros e fazem de tudo por eles, você gostou mais dessa frase do que o seu próprio cachorro!

Se você é um ser-humano indiferente com cachorros, você provavelmente achou um absurdo um sujeito metido a escritor colocar pessoas num nível abaixo de um animal quadrúpede.

Agora, se você é cristão... imagino que a frase acima tenha causado em você um misto de surpresa, indignação e revolta. Mas a sua agitação tem razão. Afinal, como alguém ousa dizer que os cristãos não são sequer seres-humanos? E pior: são inferiores aos cachorros!

Calma. Não fique chateado comigo! Meu objetivo com essa rude frase foi apenas usar de uma estratégia estapafúrdia para te causar espanto e, assim, te chamar à reflexão. Logicamente, esta frase não é uma regra universal válida para todos os cristãos...nem para todos os seres-humanos...nem para todos os cachorros. Isso vale só para alguns poucos representantes dessas três categorias.

Pense comigo e veja se não é verdade.

Existem cachorros que têm atitudes muito mais humanas do que alguns seres-humanos: amam, são amigos fiéis, cuidam, dão carinho. Alguns, inclusive, são especialistas em salvar vidas, como o São Bernardo. Outros são especialistas em ajudar a viver, como os cães-guia de pessoas cegas.

Faça uma breve retrospectiva de sua vida: quantos acidentes de carro você já avistou sem sequer parar para resgatar e socorrer as pessoas acidentadas? Quantas pessoas com problemas de visão você já avistou se esforçando para atravessar a rua, sem sequer ajudá-las a passar pelo sinal? Está vendo? Por esse ponto de vista, existem cachorros melhores – bem melhores – do que seres-humanos.

É verdade que não são todos os cachorros que são assim. De fato, existem alguns cães que mordem, perseguem, maltratam e chegam até a matar uma pessoa. Com certeza você já ouviu falar, em algum momento, de uma criança vitimada pelo ataque de um Pitbull. A boa notícia é que, por esse ângulo, existem seres-humanos que estão em nível bem mais elevado do que alguns cachorros.

Da mesma forma, existem seres-humanos que possuem atitudes muito mais cristãs do que alguns cristãos: amam o próximo como a si mesmo, são honestos e íntegros nos seus negócios, são fiéis aos seus cônjuges, dão pão a quem tem fome... Enfim, são pessoas que sequer são seguidoras de Jesus Cristo, mas cujo comportamento honra e reflete mais a Cristo do que a conduta dos próprios cristãos.

Pense, por exemplo, em Gandhi. Esse homem – mesmo não sendo cristão – talvez tenha sido um dos seres-humanos que mais viveu a mensagem de Jesus Cristo. Líder espiritual, pacifista indiano e advogado, Gandhi foi o precursor da utilização da não-violência, da resistência passiva e da desobediência civil, utilizando a paz como estratégia de guerra para obrigar a Inglaterra a conceder a independência à Índia. Gandhi, muito mais do que a maioria dos cristãos, entendeu a principal mensagem do Cristianismo: o amor. Desta forma, por suas palavras e atitudes, ganhou a admiração e o respeito de ícones como Churchill, Einstein e Martin Luther King.

Contudo, também é verdade que não são todos os seres-humanos que são assim. Com efeito, existem seres-humanos que agem como os piores dos cachorros, mordendo, perseguindo, maltratando e matando outras pessoas. A má notícia é que são raros os cristãos que agem de forma diferente do que o pior dos cachorros ou o pior dos seres-humanos.

Na minha curta caminhada, já vi cachorros melhores do que seres-humanos e melhores do que cristãos. Também já vi seres-humanos cujas atitudes deixam qualquer cristão no chinelo, mas são piores do que cachorros. Vi cachorros mais cruéis do que seres-humanos, mas mais dóceis do que cristãos. Já vi cristãos que são verdadeiros cachorros, no pior sentido possível da palavra. E já vi cristãos – muitos cristãos – piores do que ambos. Sim, foram poucas as vezes que vi cristãos mais amáveis, mais amigos, mais fiéis e mais humanos do que cachorros e seres-humanos.

Não estou dizendo, com isso, que os cristãos devam ser perfeitos. Pelo contrário. Todos nós somos pecadores. O que tento dizer é que os cristãos devem buscar, a cada dia, a perfeição. Devem ter o desejo ardente de, a cada dia, se tornarem um pouco mais parecidos com Jesus Cristo. A impressão que me dá é a de que são poucos – muito poucos – os cristãos que ainda se entristecem quando entristecem o Espírito Santo, que ainda se envergonham quando envergonham o evangelho e que ainda não banalizaram o perdão e a graça de Deus. A esses poucos cristãos em extinção, rendo minha sincera admiração.

Como cristão que sou, falo isso com tristeza. Acontecem coisas dentro da igreja que até o mundo duvida. Logo nós, que deveríamos ser o espelho de Jesus Cristo aqui na Terra, embaçamos sua imagem com a sujeira de nossos pecados, fofocas, intrigas e brigas internas. Logo nós, que deveríamos refletir a luz de Cristo na escuridão do mundo, roubamos, matamos e destruímos, fazendo as trevas zombar de uma luz que mais anuvia do que ilumina. Roubamos a paz do próximo com o modo como agimos; matamos a alma das pessoas com as palavras que proferimos; destruímos o caminho, a verdade e a vida que deveríamos levar aos perdidos. Com muitas de nossas atitudes, usamos o nome de Deus em vão.

Com mais tristeza ainda, me lembro da resposta dada por Gandhi ao ser perguntado por que razão, mesmo sendo simpatizante do Cristianismo, havia rejeitado se tornar seguidor de Jesus Cristo. Sem titubear, Gandhi disse: "Eu gosto de Cristo... Eu não gosto é de seus seguidores. Seus cristãos são tão diferentes de seu Cristo".

Jesus está vendo o que os seus seguidores estão fazendo da mensagem que Ele deixou. Nós nos dizemos, com orgulho, seguidores de Jesus Cristo. Mas temo que Jesus não nos reconheça como seus reais seguidores. Eu temo que alguns cachorros pareçam mais com Jesus do que nós. Eu temo que alguns seres-humanos – mesmo sem conhecerem a Cristo – pareçam mais com Jesus do que nós.

Eu temo que a mesma boca que exalta a Deus seja usada para agredir e diminuir o próximo. Eu temo que a mesma mão que serve a Deus sirva para esbofetear o rosto do próximo. Eu temo que a luz que deveria iluminar o mundo esteja sendo ofuscada pelo legalismo hipócrita, pelo egoísmo dissimulado e pela santidade fingida e imunda de grande parte dos cristãos.

Quanto mais conheço os cristãos, mais eu me conheço. Quanto mais me conheço, mais eu amo Jesus Cristo. E quanto mais eu amo Jesus Cristo, mais aprendo a amar os cristãos, sejam eles cachorros ou não; sejam eles seres-humanos ou não. E é porque sinto esse amor que faço essa crítica em forma de texto. Porque se o amor de Cristo não causar transformação e novidade de vida em nós, é bem provável que alguns de nós se autodenominem cristãos sem nunca terem conhecido o verdadeiro Jesus Cristo.


Por Fernando Khoury

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Jesus continuou: Ninguém acende uma lamparina para pôr num lugar escondido ou debaixo de um cesto. Ao contrário, ela é colocada no lugar próprio, para que os que entrarem na casa possam enxergar tudo bem. Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de você são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de escuridão. Portanto, tenha cuidado para que a luz que está em você não seja escuridão. Pois, se o seu corpo estiver completamente luminoso, e nenhuma parte estiver escura, então ele ficará todo cheio de luz como acontece quando você é iluminado pelo brilho de uma lamparina.” – Lucas 11.33

E não façam com que o Espírito Santo de Deus fique triste. Pois o Espírito é a marca de propriedade de Deus colocada em vocês, a qual é a garantia de que chegará o dia em que Deus os libertará.” – Efésios 4.30


“O ladrão só vem para roubar, matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa.” – João 10.10
:: O que os olhos não veem...o coração vê! ::
“O dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Por isso, não durmamos como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios.”
(I Tessalonicences 5.2)

"E Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente."
(João 11:25)

"Ainda que um arrependimento eterno manifeste-se depois desta vida, ele será inútil"
(Agostinho)

Acordei agitado no meio da madrugada. Meu corpo estava suado. Meu coração pulsava forte. A sensação era de que havia sonhado algo muito ruim. Meus olhos ainda estavam embaçados de sono. Um silêncio absoluto dominava o meu quarto, fazendo com que a única coisa que ouvisse fosse o meu próprio respirar ofegante. A noite, ainda escura, não me permitia enxergar os móveis com clareza. Mesmo assim, calmamente, levantei de minha cama e, quase caindo no chão de tanta fraqueza, andei cambaleando em direção à janela. Tudo que queria naquele momento era sentir a leve brisa do mar levar embora consigo todo aquele ambiente pesado. Coloquei meus braços sobre a janela e, como sempre, a empurrei contra a parede. Em vão: por alguma razão que eu não entendia, a janela não se abria. Não importava quanto esforço eu fizesse.

Não acreditando no que estava acontecendo, esfreguei meus olhos e, já um pouco mais acordado, concentrei toda minha força e tentei mais uma vez. Sem sucesso. Tudo muito estranho. Era como se uma força invisível impulsionasse a janela na direção oposta aos meus braços, conspirando contra mim a fim de não me deixar sentir no rosto o frescor de novos ares. Não teve jeito:
acabei por me sentir completamente sufocado pelo clima que envolvia aquele mesmo lugar que, na noite anterior, havia me proporcionado um sono tão leve e tranquilo.
Ainda não sabendo distinguir se era sonho ou realidade, comecei a ficar atormentado. O suor aumentou. O pulsar do coração também. Fiquei preocupado. Como a força das águas de uma cachoeira, um turbilhão de pensamentos começou a brotar em minha mente. Afinal de contas, o que estava acontecendo? Por que essa noite não era apenas mais uma noite comum como todas as outras? Qualquer tentativa de compreender racionalmente esse mistério que resolveu me afligir naquela noite me deixava ainda mais perplexo. Não conseguia entender nada, não conseguia ver nada...me senti pequeno demais, completamente perdido, no meio do caos. Nunca havia passado por uma situação tão estranha assim em toda minha vida.

Absolutamente transtornado, a única solução que me ocorreu para fugir daquele ambiente carregado foi abrir a porta. Ainda escuro, tive que ir tateando a parede delicadamente em sua direção. No trajeto, acabei por derrubar vários objetos e enfeites que caíam sobre os meus pés e se esfacelavam no chão, causando um barulho fino e estridente. O caminho até a porta nunca pareceu tão distante. Antes de conseguir chegar onde queria, senti os dedos de minha mão passarem por cima do interruptor de luz. Apertei instantaneamente. Pra minha surpresa, não ouvi o click, nem vi as luzes se acenderem. Apertei novamente, e nada! Muito diferente disso: a única coisa que percebi foi o barulho longínquo da chave virando e trancando a porta.

- "NÃO! A PORTA NÃO!", gritei angustiado. Naquele mesmo momento, comecei a tatear loucamente a parede procurando o mesmo interruptor para apertá-lo outra vez, na esperança de que a porta se destrancasse. Não encontrei nada. Misteriosamente, a parede havia ficado totalmente lisa.

Em meio àquela agitação que havia tomado conta de mim, já estava prestes a desistir de tudo, quando minhas mãos acabaram por esbarrar, sem querer, num objeto cônico de madeira. Mesmo sem conseguir enxergar, imaginei que pudesse ser a maçaneta. Como um peregrino desfalecido que encontra água fresca no deserto, me agarrei a ela com toda minha força, e não a soltei mais. Finalmente, havia encontrado um simples pedaço de madeira que, naquele momento, representava a minha única esperança viva e real de sair daquele lugar. Imediatamente, coloquei minha mão um pouco abaixo da maçaneta, com o objetivo de desvirar a chave e me ver livre daquela prisão em que meu quarto havia se transformado. Mas que chave? Só naquela hora fui me dar conta de que a porta do meu quarto jamais havia tido uma chave. JAMAIS! Novamente, uma infinidade de pensamentos começou a me consumir. Se nunca houve uma chave, o que fez a porta se trancar? E o barulho que eu havia ouvido quando apertei o interruptor, o que era?

Espantado, senti uma lágrima escorrer do meu olho esquerdo. Ela foi descendo lentamente pelo meu rosto e, passando pelo meu queixo, tocou sutilmente o chão. Neste exato momento, ouvi uma voz forte como um trovão, mas suave como o planar de uma pena, dizendo:

- "FECHE OS OLHOS. FECHE OS SEUS OLHOS PARA QUE VOCÊ POSSA VER".

Intuitivamente obedeci, porque havia sentido paz no tom daquela voz. Poucas coisas na minha vida haviam me proporcionado uma tranqüilidade tão profunda na alma quanto aquela voz. Fechei os meus olhos. No mesmo instante, ouvi o som da chave se desvirando, e um grunhido fino me revelou que a porta estava se abrindo.

- "NÃO ACREDITO!", pensei eu, ainda de olhos fechados. "FINALMENTE VOU ME VER LIVRE DESSE INFERNO".

Enquanto a porta foi se abrindo vagarosamente, senti um vento e um clarão muito intensos vindo em minha direção. Tentei abrir meus olhos para ver do que se tratava, mas não consegui: a mesma força invisível que havia me impedido de abrir a janela parecia estar sobre os meus olhos agora. A curiosidade tomou conta de mim. Continuei com os olhos fechados...mas, inexplicavelmente, comecei a visualizar, em imagens ainda disformes, o que estava do outro lado da porta. Aos poucos, tudo foi ficando nítido e no devido foco. Foi assim que, pela primeira vez, comecei a enxergar com os olhos do coração. Uma sensação totalmente nova e inebriante, como se estivesse aprendendo a mergulhar no fundo do mar e a desbravar a rica imensidão de sua fauna e flora.

Este foi o dia em que, mesmo com os olhos fechados, eu vi. Dei alguns passos para frente e adentrei pelo novo universo que a abertura da porta – ou melhor, a abertura do meu coração – havia me revelado. Pude perceber que o vento impetuoso e a luz forte que havia sentido poucos momentos antes vinham de um objeto longínquo de madeira encostado na parede. Ainda não sabia o que era...fui me aproximando devagar.

Ao chegar mais perto, pude ver uma escada bem alta, apoiada e amarrada numa parede. A escada reluzia fortemente e emitia um som parecido com correntes elétricas se chocando intensamente num campo magnético sem fim. Em cada degrau havia um número tingido em vermelho, em ordem crescente. E na parede sobre a qual a escada se apoiava estava escrito SHEOL.


Fascínio, dúvida, esperança, medo. Uma mistura extasiante de sentimentos se apoderou de mim. Não fazia a mínima idéia do que aquilo representava – se é que aquilo representava alguma coisa. Permaneci quieto, refletindo no que meu coração estava vendo.

Então, repentinamente, a mesma voz que havia me confortado anteriormente, exclamou mansamente:

- "VOCÊ NÃO ENTENDE O QUE VÊ, NÃO É MESMO? INFELIZMENTE A MINHA CRIAÇÃO SE ACOSTUMOU A ACREDITAR APENAS NAQUILO QUE PODE VER COM OS OLHOS OU TOCAR COM AS MÃOS... AOS POUCOS, VOCÊS SE ESQUECERAM QUE O CORAÇÃO É CAPAZ DE ENXERGAR COISAS INVÍSIVEIS AOS OLHOS, E DE OUVIR LINDAS SINFONIAS SILENCIOSAS AOS OUVIDOS. O QUE O SEU CORAÇÃO ESTÁ TENTANDO TE MOSTRAR É QUE ESTA ESCADA É A SUA VIDA. CADA DEGRAU REPRESENTA UM ANO DE VIDA QUE VOCÊ JÁ COMPLETOU”.

Atônito, não acreditei no que havia acabado de ouvir. Me aproximei ainda mais da escada e comecei a me deter em seus detalhes. Pude observar que em cada degrau estava gravada a minha impressão digital, juntamente com as decisões que havia tomado em cada ano da minha vida. Comecei a lê-las, e me recordei das muitas escolhas erradas que fiz ao longo da minha vida, e do quanto sofri por causa delas... Pude perceber o quanto eu ainda era escravo das minhas próprias escolhas do passado. Eu – que até então me julgava tão livre – vi o quanto era prisioneiro de mim mesmo. Chorei. Amargamente.

Soluços e lágrimas tomaram conta de mim. Simples palavras pareciam incapazes de sair da minha boca. Quase sem forças, como se sentisse que aquela voz também pudesse me ouvir, disse desfalecendo:

-
“MAS O QUE SIGNIFICA A PALAVRA QUE ESTÁ ESCRITA NA PAREDE?”
De repente, uma brisa suave veio em minha direção, transmitindo uma pesada mensagem na leve voz de Deus:

-
“SHEOL SIMBOLIZA A MORTE. VOCÊ CONSTRUIU SUA VIDA SOBRE UMA PAREDE QUE IRÁ TE CONDUZIR PARA A MORTE ETERNA. A VIDA NÃO É SÓ A ESCADA, MAS TAMBÉM O PROCESSO DE SUBIR ESSA ESCADA. POR TODOS ESSES ANOS VOCÊ TEM APOIADO SUA ESCADA SOBRE A PAREDE ERRADA. UMA SÓ VIDA A VIVER, E VOCÊ A PERDEU. ESTE É O DESTINO QUE VOCÊ DEU PARA SUA ALMA”.
- “NÃÃÃÃOOOO! NÃO PODE SER! SE EU TIVESSE APENAS MAIS UMA CHANCE...”, gritei ao léu, ouvindo o som do meu próprio eco se afastar e se perder várias vezes por aquele ambiente desconhecido. Enquanto gritava, eu mesmo me vi subitamente sugado por uma força extraordinária e lançado na escuridão eterna, onde só podia ouvir dor, aflição, lágrimas e o brado desesperado de milhões de almas.

Por um momento, cheguei a pensar que aquilo tudo não passara de um sonho, de uma pegadinha que o meu cérebro tramara contra mim. Porque, na vida real, essas coisas não acontecem. No mundo dos fatos, tudo é muito certo, muito lógico, muito racional. Mas aquela noite não foi assim.

Naquela noite em que eu não acordei mais, aprendi que eu não podia mais confiar apenas no que meus olhos viam. Descobri que os nossos olhos muitas vezes nos traem, porque eles nos levam a acreditar que somente aquilo que somos capazes de enxergar existe. MENTIRA! Me decepcionei comigo mesmo. Como podia um órgão do meu próprio corpo me trair a tal ponto?

Ironia ou não, justamente os órgãos que têm por função me fazer enxergar a realidade resolveram me iludir. Meus olhos mentiram pra mim. Descobri que os olhos nos mostram apenas a parte da realidade que eles conseguem captar; mas só o coração é capaz de nos revelar coisas que os nossos olhos não podem ver. Sim, os olhos do ser humano são míopes para as questões espirituais. Nessa área, quem enxerga é o coração.

Durante toda minha vida, meus olhos me traíram. E quem tentou me salvar foi meu coração, porque ele me mostrou coisas muito mais além do que minha vista era capaz de alcançar...
só que quando eu vi, era tarde demais.


Por Fernando Khoury

 
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:: Não abandone... ::
No início, são só palavras. Cartas e poesias trocadas buscando demonstrar a intensidade do amor que se sente. Telefonemas ao longo do dia com o único objetivo de matar um pouco da saudade que nunca acaba. Tempos em que ouvir a voz do outro traz refrigério, realização, paz.

No início, são só gestos. Andar de mãos dadas, não importa onde. Abraçar e trocar pequenos beijos, não importa a hora do dia. Tempos em que sentir o toque do outro traz calafrio, completude, felicidade.

No início, são só surpresas. As flores recebidas de forma inesperada na sala de aula. Um presente dado sem haver comemoração de qualquer aniversário. Tempos em que se busca surpreender o outro através de pequenos detalhes.

No início, são só descobertas. Conhecer as qualidades, as manias, os segredos do outro. Rir dos defeitos e das frases bobas. Saber do que o outro gosta. Tempos em que cada dia um novo horizonte se abre com cores nunca antes vistas.

Momentos em que todo o tempo do mundo é muito pouco para demonstrar o que se sente.

Momentos em que cinco horas acabam em apenas cinco minutos.

Momentos em que a vida começa a fazer mais sentido.

No início, todas essas pequenas coisas nascem do amor. É como se o amor fosse a semente de uma grande árvore, que só é capaz de crescer e gerar frutos se alimentada por esses nutrientes. O problema é que, com o passar do tempo, a gente se acostuma a amar. E a gente se engana ao achar que aquela árvore que já está crescida e frondosa não precisa mais dos nutrientes de outrora. E os frutos ficam menos verdes, as folhas perdem o brilho e a vida, sua beleza.

A gente se acostuma a não sentir mais aquela saudade que aperta o peito, a não escrever mais cartas e poesias, a não ligar para o outro várias vezes ao dia. A gente se acostuma a não andar mais de mãos dadas, a não trocar pequenos gestos de carinho. Aos poucos, a gente vai se tornando imune à saudade, insensível ao toque.

A gente se acostuma a não mandar mais flores, a não dar mais presentes fora de hora. A gente se acostuma com as características do outro, a não rir dos seus defeitos e de suas frases bobas... a gente se acostuma com outro. E, pouco a pouco, a gente se torna desinteressado pelos detalhes, cego para os novos horizontes e suas múltiplas cores.

A verdade é que as palavras, os gestos, as surpresas e as descobertas nunca acabam. A gente é que pára de procurar por eles. A gente é que pára de lançar esses nutrientes à terra para que a árvore do amor continue crescendo de forma plena e viçosa.

O verdadeiro amor deve conciliar a simplicidade e a novidade do amor juvenil com a profundidade e a experiência do amor maduro. Por isso, lute e relute, mas não abandone... Não abandone as palavras. Não abandone os gestos. Não abandone as surpresas. Não abandone as descobertas. Enfim, não abandone o amor.

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P.S.: Esse texto se refere também ao seu relacionamento com Deus. Então, se o seu amor por Ele esfriou, cuidado: você provavelmente parou de fazer uso dos nutrientes na sua vida espiritual. Use as palavras( Oséias 14.2, I Coríntios 13.1) e os gestos ( Mateus 25.35, I João 3.18). Fique atento às surpresas ( I Coríntios 2.9, Lucas 21.34) e às descobertas ( Salmos 34.8, Isaías 26.8 e 9).


Por Fernando Khoury
:: De mudança ::
Eu moro numa casa muito luxuosa com minha família. O valor do aluguel que meus pais pagam é bem alto, mas isso não importa muito, pois meus pais têm condições de pagar o preço exigido. Além do mais, lá tem tudo que eu preciso e não preciso. São tantas as facilidades que o dono do imóvel nos ofereceu para alugarmos sua casa, que não damos conta de usar nem a metade!

De todas as coisas que possuo, do que mais gosto mesmo é do meu bichinho de estimação: um cachorro Beagle marrom lindo que eu ganhei quando tinha 11 anos. Ele se chama Max. Quem me deu foi o dono do imóvel, o Sr. Almeida, antes de assinarmos o contrato de aluguel de sua casa. Lembro-me como se fosse hoje dele dizendo:

- Eu aceito alugar minha casa com uma condição: você terá que aceitar o cachorro que vou te dar e terá que cuidar muito bem dele. Você terá que ficar com ele pro resto da sua vida. E jamais poderá abandoná-lo, de modo que todos que te virem com o cachorro saberão que você mora na minha casa.

Achei estranha a condição estabelecida, mas prontamente respondi:

- Claro que aceito! Afinal, mesmo que não gostasse de cachorro, não faria com que meus pais deixassem de alugar uma casa que parece ser tão linda e luxuosa como a sua por causa disso.

Desde então, Max se incorporou definitivamente à minha vida. Fiz questão de cumprir fielmente o acordo que firmei com o Sr. Almeida: levei Max pra tomar todas as vacinas, dei banho nele sempre que precisava, o levei pra passear todos os dias... Enfim, Max e eu viramos verdadeiros amigos. Já estamos há tanto tempo juntos que ele já faz parte de quem sou.

Hoje, eu já tenho 26 anos, e Max continua ao meu lado, morando na mesma casa alugada de quinze anos atrás. Só que algumas coisas mudaram. Não temos mais a paz que tínhamos antigamente. Só temos brigas e problemas. Todo o luxo da casa do Sr. Almeida se transformou em lixo. É como se as facilidades que o Sr. Almeida nos ofereceu, junto com a linda casa, estivessem nos sufocando a ponto de perdermos o ar. Pra piorar, o valor do aluguel chegou a um preço alto demais, que meus pais não aguentam mais pagar, mesmo que se esforcem muito. Sem saber, meus pais estão carregando um piano nas costas.

Na verdade, meus pais já tinham até começado a procurar um imóvel mais simples e mais barato, quando o Sr. Almeida – cada vez mais exigente, irritado e com medo de nos perder – fez uma proposta irrecusável:

- Eu vou diminuir um pouco o aluguel! exclamou ele. Não posso perder vocês! Farei de tudo para vocês não abandonarem o Max. Reconheço que o preço aumentou muito nesses últimos anos, e está pesado demais para vocês. Se aceitarem minha proposta agora, darei pra vocês muito mais luxo e facilidades.

A alegria foi instantânea. Meus pais – se esquecendo momentaneamente do fardo que estavam carregando – já estavam prontos para aceitar a nova proposta, quando o telefone toca. Quando ouviu o som do telefone tocando, o Sr. Almeida ficou nitidamente tenso, e fez de tudo para impedir que atendêssemos, como se soubesse quem estava nos ligando. Ele queria que assinássemos o novo contrato antes de atender ao telefone e, por isso, cuidou logo de arrumar uma caneta para meu pai. Mas meu pai, mesmo com a caneta já em sua mão, pediu pra eu atender logo a ligação. Corri então para atender ao telefone, que já tocava insistentemente há um bom tempo. Para minha surpresa, ouço a voz de um homem desconhecido oferecendo o inimaginável:

- Oi, disse o homem em voz mansa, eu sei que vocês estão procurando uma casa para alugar. Eu tenho um imóvel para lhes oferecer. É simples, mas posso lhes assegurar que tem o estritamente necessário para que vocês vivam em paz.

- Que bom! Mas não vamos precisar mais não, porque estamos acertando a renovação do nosso contrato neste exato momento. De qualquer forma, só para saber, qual seria o preço? Seria muito caro? perguntei eu.

- Não! Não renovem esse contrato. Vocês não sabem o que estão fazendo. Quanto ao valor do aluguel, vocês não precisam se preocupar. O preço é por minha conta. O aluguel é de graça! Só vou pedir uma coisa em troca: vocês terão que abandonar o cachorro de vocês.

- O Max?

- Sim, o Max.

- Que absurdo! O Max já faz parte de nossas vidas...ele está conosco há mais de quinze anos, já criamos amor por ele. Ele já faz parte de nós.

- É, eu sei. E é justamente por isso que eu quero que abadonem o Max. Vocês não poderão mais cuidar dele, nem passear com ele. Vocês não poderão mais alimentá-lo, nem viver com ele. Vocês não poderão mais ser amigos dele.

- Mas por quê? Por que isso?

- Porque eu faço questão que vocês morem em minha casa. E na minha casa não pode entrar nenhum bicho de estimação, seja de quem for.

- Que loucura! Quem você pensa que é pra fazer uma exigência dessas?

E o homem disse:

- Antes de saber quem sou, vocês precisam saber quem são verdadeiramente as pessoas que estão ao seu redor. O Sr. Almeida, o dono do imóvel que vocês alugam, é o diabo. O Max, o bicho de estimação que já se incorporou à sua vida, é o seu pecado. E eu...eu sou Jesus, aquele que está te oferecendo uma nova casa, repleta de paz e santidade. Mas só farei isso se você estiver disposto a abandonar seu bicho de estimação, pois na minha casa o pecado não pode ficar. A escolha é sua. O preço eu já paguei. Agora, só depende de você.



Por Fernando Khoury
:: Obrigado ::

Pelo pouco que conheci, já conheci muito.
E pelo muito que conheci, não acreditei...

Não acreditei no que meus olhos viram.
Não acreditei no que meus ouvidos ouviram
Não acreditei no que senti.

O que eu vi?
Uma forte luz dissipando toda a escuridão.
O que ouvi?Doces palavras rompendo o infinito do silêncio.
O que senti?
Ainda não encontrei palavras para expressar ao certo.

Só sei que estou alegre. Só sei que estou em paz.
Alegre por Te conhecer.
Em paz por descobrir que ninguém mais me ama como você.

Justo quando já estava sendo sufocado,
Percebi que ainda existia ar puro semeado
Em meio a tanta poluição.

E isso me fez perder o medo de respirar;
Me deu nova vontade de viver.

No exato momento em que estava morrendo de sede,
Encontrei fonte de água cristalina ao ver-Te

Em meio ao calor intenso do deserto.

E isso me fez ter forças para continuar;
Me deu coragem para prosseguir.

Quando não conseguia mais enxergar cor no perfume das flores,
Descobri uma rosa repleta de lindos valores

Escondida no jardim da decadência moral.

E isso me fez não perder a esperança;
Me fez não duvidar dos sonhos que Tu sonhas pra mim.

Obrigado, muito obrigado por tudo.
Porque a sua presença em meio a minha ausência me fez ter fé para de novo acreditar...

No que eu não podia mais ver – mas vi
No que eu não podia mais ouvir – e ouvi
No que eu não podia mais sentir – e só senti
Em ti.

Por Fernando Khoury
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